A música é a própria personificação da democracia. Você pode cantar bem ou mal, com uma letra superficial e totalmente comercial ou fazer uma dura critica ao governo. Você pode colocar um instrumento ou uma orquestra inteira. O instrumento pode ser um pedaço de madeira amarrado com arame e uma cabaça cortada ou pode ser um par de pickup e um mixer. Você pode dançar, pular, dar cambalhotas ou ficar sentado em um banco. Você pode ainda gostar ou não de uma música.
Cada parte da minha vida foi regida por um estilo de música e hoje, felizmente, levo essa diversidade musical com muito gosto. Meu Ipod em modo shuffle (aleatório) toca desde MPB ao Rock, Jazz ao Hip Hop, Samba ao Rap e Blues ao Reggae, mas se tem uma coisa que me atrai são os ritmos que se misturam, músicas que você escuta e não sabe enquadrar em qual gênero ela se encaixa, com letras inteligentemente afiadas para rasgar com criticas a sociedade, humanidade, governo ou seja lá o que for. Comercialmente falando, essa indefinição de gênero ou duras criticas não são positivas, mas musicalmente, essa quebra de paradigma, constrói um ambiente sonoro novo para nossos ouvidos e quando isso ocorre, mesmo que em uma escala muito pequena, nos incomodamos quando voltamos aos gêneros pré-fabricados e melhor, nos incomodamos com as criticas colocadas nessas músicas.
B Negão e os Seletores de Frequência é isso! Quando escutei pela primeira vez, o que mais me chamou a atenção foi a diversidade sonora, Hip Hop com Dub e o trompete colocando um tempero Blues, destaque para a faixa “Ho Hay”, totalmente instrumental. Depois da primeira impressão, comecei a prestar atenção nas letras e fiquei impressionado com o conteúdo, que além da critica sócio-política, para minha surpresa, também tem um apelo espiritualista muito forte.
As faixas “Nova Visão”, “O Processo” e “V.V.”, são uma síntese de alguns fundamentos espiritualistas como o desprendimento ao materialismo, lei da ação e reação, evolução espiritual, fé em Deus (ou seja lá qual for o nome dado a Ele), entre outros. Outra faixa que chamou minha atenção para esse lado foi “O Opositor”, que na minha visão parece falar dos “obsessores” e como eles interagem conosco.
A faixa “Prioridades” é uma crítica ferrenha a sociedade, dando um tapa na nossa cara, mostrando como as nossas prioridades estão distorcidas, onde a felicidade esta em bens materiais, ou ainda nos extremismos religiosos chamadas de guerras-santas. Enfim, se você é um ser humano, sinta-se criticado.
Por ultimo a faixa “Enxugando Gelo”, minha preferida, além de um teor de história em quadrinhos, me fez refletir em como existem muitos super-heróis no mundo, sobrevivendo com salários ínfimos, alimentando uma família, pagando impostos, educando os filhos com amor e ainda por cima fazendo tudo isso com bom humor.
Quando eu escuto um som como B Negão e os Seletores de Frequência, por um lado eu fico muito satisfeito em ver que é possível criticar a sociedade e o governo de uma forma inteligente – por que é isso que eles são – com qualidade sonora e maestria nos arranjos e mixagens. Mas, por outro lado, penso que poderiam ter mais sons como esse, que esse tipo de música dominasse os Ipods dos jovens e adolescentes, que as frases dessas músicas os incitassem a agir dentro da sociedade e contra o governo, quando necessário. Por isso, procuro sempre mais sons como esse – e tenho encontrado. Sigo torcendo para que B Negão e os Seletores de Frequência tão logo possa produzir mais um trabalho primoroso como o álbum Enxugando Gelo.
Acredito que o mundo esteja passando por um processo de mudança e que a Nova Visão pode estar acontecendo agora, devagar, mas acontecendo.
Duda.
Um comentário:
Tive o prazer de ver o BNegão na Virada Cultural da Capital (não poderia ser em outro lugar) São os rabiscos não linear dentro da nossa vasta diversidade musical. É bom por que é bem feito, tem proposta e vislumbra resultado.
BNegão com certeza esta no meu shuffle. Muito Legal!!!
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